Bitcoin: a Moeda Virtual
Artur Soares Alves
11-Abr-2013
A inflação é assunto em que os proprietários têm o
curso completo. Não por terem estudado nas escolas de economia mas porque esse foi o artifício que os despojou das suas poupanças.
Apenas para dar uma ideia do que se está a dizer, segundo o próprio Ministério das Finanças a moeda desvalorizou 7,8 vezes entre 1974
e 1984. Isto significa que o que custava 100 escudos em 1974 custaria 780 escudos em 1984.
Os preços subiram 7,8 vezes, os salários
mais ou menos acompanharam-nos. Se os preços subiram, também os lucros dos lojistas subiram. O que não subiu foi a renda, da casa
ou da loja, logo o proprietário continuava com o mesmo rendimento para fazer face a despesas quase oito vezes maiores.
De facto
a moeda não “desvalorizou”, a moeda não tem consciência nem vontade própria. O que aconteceu é que imprimiram moeda em grande quantidade,
ao mesmo tempo que a produção de bens não aumentava. Assim, como havia muito mais dinheiro para comprar a mesma quantidade de bens,
necessariamente os preços subiram. Isto foi consequência direta da demagogia com que políticos sem maturidade se alçapremaram ao poder
na sequência do 25 de Abril de 1974. Tendo feito promessas de bem-estar logo que a ditadura acabasse[i], foram obrigados a fazer a
distribuição de dinheiro sem valor mas que entreteve um público embriagado pela ilusão monetária. Foi a inflação com as suas vítimas
habituais, aqueles que vivem de rendimentos fixos como os senhorios, os reformados e as empresas sujeitas a contratos a longo prazo.
Tudo
isto parece passado. Hoje, o Banco Central Europeu emite em exclusivo a moeda dentro da zona Euro. A principal missão do BCE é preservar
o poder de compra do euro e, deste modo, a estabilidade de preços na área do euro. Aqui. Em rigor a estabilidade dos preços não é
absoluta conforme o mostra o gráfico publicado pelo próprio Banco. O que passa é estarmos longe daqueles números da ordem de 20% ao
ano, que se verificaram após 1974. Em contrapartida, a inflação é baixa de forma que não se sentem muito os seus efeitos perniciosos
na economia.
O dinheiro metálico
Este compromisso do Banco Central Europeu com os cidadãos da zona Euro nem por isso deixa
toda a gente descansada. Este compromisso não é unânime, talvez nem seja mesmo consensual. Assenta na influência da Alemanha e como
sabemos grandes figuras da economia e da política gostariam de ver o BCE a inflacionar a moeda para, na opinião dessas eminências,
“vencer a crise”. A certeza de que o valor das poupanças está garantido é uma certeza moderada. Os acasos e necessidades da política
podem levar de novo a inflacionar a moeda, quer através de emissões excessivas, quer através do crédito.
O caso de Chipre veio
mostrar com luminosa clareza as incertezas a que estão sujeitos os depósitos bancários onde o quidam acumulou as suas poupanças.
Tendo
isso em conta há quem insista na necessidade de ligar a emissão de papel-moeda à existência de ouro nos cofres do banco emissor. Nesse
caso as notas emitidas seriam remíveis a ouro sempre que o possuidor o desejasse e sem quaisquer formalidades. A questão não é despicienda
e na verdade todos os bancos centrais tendem a acumular ouro, mesmo que se jure sobre a superioridade do papel-moeda.
A reintrodução
do padrão ouro não parece credível num médio prazo. Todavia, tomando o padrão ouro como modelo, foi criado um dinheiro virtual, o bitcoin, que neste momento está a ter um sucesso inesperado. Para além de ter apreciado muito em relação ao dólar, ele está neste
momento a ser muito mencionado na imprensa e foi objeto de um estudo pelo próprio BCE.
Bitcoin
A vantagem do padrão ouro
é não permitir a emissão de papel-moeda sem que nos cofres exista a contrapartida em ouro. Ora, como este metal é raro e extraído
lentamente da terra os bancos centrais e os governos que os comandam não podem imprimir moeda à sua vontade. Portanto, deixa de haver
um controlo político sobre a emissão de moeda, deixa de haver a possibilidade de emitir papel-moeda para criar uma euforia momentânea
e obter vantagens políticas.
Os bitcoins foram concebidos para que a totalidade da massa monetária seja fixa, aumentando lentamente
como aumenta o ouro extraído da terra. Atualmente é emitido um bitcoin em cada 10 minutos mas o ritmo da emissão vai diminuindo com
o tempo até atingir um máximo de 21 milhões.
Como obter bitcoins? Respondamos a outra pergunta: como obter ouro? Há duas maneira
de obter ouro, ou diretamente escavando numa mina, ou indiretamente comprando-o a quem o escavou. Mais propriamente, trocando outras
mercadorias pelo ouro escavado. O mesmo acontece com os bitcoins. Podem ser conseguidos por mineração, ou seja, a resolução
de certos problemas computacionais difíceis que dão bitcoins como prémio; ou podem ser comprados a quem os minerou ou simplesmente
a quem seja dono deles.
Para serem classificados como dinheiro os bitcoins têm que ser aceites como meio de pagamento. Por ora, somente alguns vendedores os aceitam, e principalmente nos setores da informática.
FIM
[i] É verdade que a ditadura é ineficiente do ponto de vista
económico porque atravessa dificuldades no caminho do cidadão que quer ganhar a sua vida. O Estado Novo tem um bom registo económico
entre 1950 e 1974, com crescimentos anuais entre 5% e 7%. Paz nas ruas, uma moeda estável, impostos moderados, leis igualmente estáveis,
é isso que contribui para o crescimento económico. Num sistema de liberdade política este crescimento poderia ser maior. Contudo,
não se censuravam a Salazar os tiques corporativos do Estado Novo e a proeminência da política, o que se censurava era o Estado não
gastar ainda mais.