Gozar ou Fazer pela Vida — eis o Dilema
António Frias Marques
18-jun-2015
É uma verdade axiomática que só há
duas certezas na vida: morrer e pagar impostos!
Agora vejamos: se for um cidadão de posses e com um sentido hodierno da existência,
desfruta a seu bel-prazer de meia dúzia de casas espalhadas pelo país, eventualmente uma em Lisboa, nas Avenidas Novas, onde tem a
residência fiscal; outra no Algarve, num condomínio junto à praia, onde vai quando a canícula aperta; outra na cidade do Porto, na
aristocrática zona da Foz, onde passa a noite quando tem de se deslocar ao Norte; mais uma nos arredores de Lisboa, ótima para passar
fins de semana; uma casa apalaçada nas Beiras, que visita de longe em longe e lhe foi deixada em herança por uma tia-avó; um apartamento
simpático na zona dos Prazeres e, finalmente herdou do lado do pai, em Lisboa, uma penthouse no Parque dos Príncipes, que também está
devoluta, mas reservada para uma filha que está a tirar o mestrado e um dia será casadoira.
Como só pode pernoitar numa casa
— pelo menos de cada vez — tem 6 fogos vagos e nada lhe acontece.
Ali ninguém toca!
Tem-nas mas são dele!
Estão
vagas, mas guardadas para quando lhe apetecer as poder usar ou até, quem sabe, vendê-las e vir a apurar chorudas mais-valias.
Ai
de quem se lembre de as tributar, em sede de IMI, em triplicado!
Ademais é um alto quadro público e sabe muito bem o que fazer
se o quiserem “aborrecer”.
IMI POR MEDIDA
Vejamos agora o outro lado do “filme”: um cidadão do Porto, proprietário de um
prédio, durante dezenas e dezenas de anos, como as rendas estavam congeladas, não conseguiu auferir o mínimo rendimento. No entanto,
pela lei natural da vida, do total de 6 inquilinos já só tem 3, ficando seriamente preocupado acerca de onde ir buscar o dinheiro
necessário para a recuperação dos fogos, deixados num estado de autêntico pós-guerra civil.
Passado um tempo, abalançou-se a
fazer obras de recuperação dos andares e, no fim, até os conseguiu arrendar. Mas agora estão vagos.
Para nada; teve de tirar
a certificação energética.
Anunciou e não apareceu ninguém.
Construiu-se demasiado e há casas a mais!
Passado um ano, a
Câmara já o avisou: como as casas estão devolutas, vai ter de pagar o IMI a triplicar!
Quer dizer: se um cidadão tem um sentido
económico da vida, trabalhou durante toda a sua existência e conseguiu comprar um prédio ou um andar para rendimento, dando-lhe portanto
uma função na economia, e não o consegue arrendar, está tramado. Mas sendo para gozo e deleite pessoal, pode ter, sem uso, as casas
que quiser!
Para uns é um pecado, para outros é uma gracinha.
FIM