Casas a Mais
António Frias Marques
2-jun-2016
Depois de dezenas e dezenas de anos de arrendamentos de longa
duração e no estado em que as casas são deixadas, ninguém se mete lá dentro.
O ciclo é este: o município considera a habitação
devoluta e penaliza o proprietário, agravando o IMI em 200 %, para o triplo.
Já muito debilitado financeiramente, o proprietário
endivida-se e consegue reabilitar o imóvel. A seguir coloca-o no mercado e, por excesso de oferta conjugado com possíveis candidatos
a inquilinos que não dão garantias, o andar permanece fechado, dando origem aos reabilitados fantasma que a breve trecho: 6, 7 anos,
necessitarão novamente de cuidados, e aos 8 anos, seguramente, obras de manutenção e conservação.
Entretanto voltou o malfadado
IMI a triplicar, pois a Câmara é alheia e está-se nas tintas para que haja casas a mais e demais. Casas essas cuja construção foi
em devido tempo – últimas décadas – aprovada pelos municípios e fonte da sua principal receita: licenças de construção! Convém não
esquecer que agora, esgotada, ou pelo menos muito mirrada, essa fonte, a receita do IMI assume-se como principal financiador das câmaras
já representando mais de 60 % dos proventos autárquicos!
Desesperado e falido que resta ao proprietário?
Reabilitar para
a prateleira
Se as Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU) pagas com o dinheiro dos contribuintes e administradas pelas câmaras
e pelo IHRU não conseguem vender ou rentabilizar os edifícios em que intervieram, qual a base moral para impor aos proprietários particulares
este ciclo diabólico?
Reabilitar o quê? Porquê? Para quê? Para quem? Onde? Quando? Com o dinheiro de quem?
Portugal dispõe
de cerca de 6 Milhões de alojamentos familiares clássicos dos quais cerca de Um Milhão são segundas habitações: na praia, na aldeia,
etc.. Restam 5 Milhões com utilização habitual, mas as necessidades dos cerca de 10 Milhões da população portuguesa, cujos agregados
familiares são, em média, constituídos por 2,5 pessoas, ficam-se pelos 4 Milhões. Sobra portanto cerca de Um Milhão de casas sem interessados,
sejam compradores (cerca de 900.000 casas à venda), sejam inquilinos (cerca de 110.000 casas para arrendar).
Curiosamente, ou
talvez não, quem fomentou este desequilíbrio vem agora ululantemente apontar o dedo aos detentores de propriedades particulares, exigindo-lhes
cuidados que, em contrapartida, se esquecem de aplicar nas propriedades de que são responsáveis…
FIM